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quarta-feira, 31 de março de 2010

Eu queria ser Armando Nogueira

Esta semana começou esquisita. Nesta segunda o tempo fechou, pássaros não cantaram e a
criançada foi ainda mais sonolenta pra escola. A tradicional segunda-feira, costumeiramente mais sem-graça que chuchu sem azeite, tornou-se triste e melancólica. A imprensa brasileira, ou melhor, o Brasil perdia um dos homens mais respeitados da sua breve história.

Sr. Armando Nogueira foi simplesmente um dos criadores do Jornal Nacional. Revolucionou a linguagem do telejornalismo brasileiro (antes inspirado no rádio). Cronista, tratava as palavras como ninguém. Profissional até o último fio de cabelo. Respeitoso, amigo e dedicado. Imparcial, apesar de botafoguense confesso.

Clássico camisa 10 da literatura. Nogueira fazia de seu extenso vocabulário um arsenal de grandes lances e jogadas. A precisão "léxica" é parte integrante de seu repertório. Sua caneta era sua perna mais forte, que mistura a força destra com a habilidade da canhota. Assim, como se fossem as coisas mais simples do mundo, fomos apresentados às suas maravilhosas descrições de clubes, jogos e jogadores. Usou prosas e versos para falar de Pelé, cuja classificação não pode se resumir a "jogador". Pelé era Pelé, e Armando sabia bem disso. A relação de Armando com o papel e a caneta era a mesma de Romário com a área e o gol.

Jornalista. Os depoimentos de profissionais conceituados falam por si próprios. William Bonner, José Carlos Araújo, Teixeira Heizer, Lillian Wittefibe. Todos renderam homenagens ao homem que ensinou

Aviador. Armando Nogueira, aos 83 anos, decide voar. Alma de menino, corpo senhoril, pensamentos de um gênio. Agora que voa, voa alto e plana sobre as cabeças de pobres mortais que se rendem a suas obras. E tá aí, por todos os lugares, sua herança vai do Maracanã à Wikipedia. Dos livros aos botequins. Armando Nogueira é um nome acima do bem e do mal de nossa cultura. Eu queria ser Armando Nogueira, ou só metade dele. Queria ter esse poder de escrita, esse vocabulário, a capacidade de santificar um esporte profano sem sacar-lhe as raízes. Quem não quer?

Obrigado Armando Nogueira. Você não morre nunca.

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