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domingo, 12 de abril de 2009

Fanático? Eu?

O fanatismo já é realidade quando se trata de futebol, especialmente no país dele. É fato que muitos já estão atrelados ao esporte de tal modo que não se consegue mais separar vida e torcida; paixão e exagero; canto e louvor. Fato, também, que muito brasileiro faz do futebol do fim-de-semana sua válvula de escape para o stress do cotidiano. Por outro lado, se o time perde, acabou o mundo. A outra torcida, melhor que não lhe apareça na frente.

Eu poderia pegar, agora, o exemplo dos EUA para dizer o que o fanatismo existe, mas pode ser controlado. As pessoas não deveriam levar tão a sério um esporte do qual não participam, mas são meros e passivos expectadores. Não têm qualquer influência sobre aquilo que acontece dentro dos campos e, sem ganhar um centavo sequer, choram como crianças diante do fracasso daqueles onze ali na tela. Deixam de fazer coisas e conhecer pessoas pois o resultado do jogo contrariou suas expectativas.

Mas sabe o que acontece? Por mais incrível que pareça, por mais irracional que isso seja, só quem gosta de futebol vai entender: é normal. Vamos por partes...

Definitivamente, não é saudável viver em função do futebol, ou pior, de um time. Da mesma forma, não vale a pena deixar de aproveitar a vida em função de um jogo. Isso é indiscutível. Por outro lado, principalmente no Brasil, o futebol é mais do que um esporte. Talvez eu só seja compreendido por quem efetivamente vive essa realidade. Achei o verbo certo: viver. O futebol é para nós muito mais do que qualquer outro esporte. Já não faz mais parte do nosso racional, do pensar e agir. Virou instinto, virou coisa de pele.

Tudo mais o povo assiste por prazer. Ver o Brasil em quadras e piscinas é sempre um prazer, mas poucos são os que estão emocionalmente ligados a outros esportes, em comparação ao futebol. O culto ao futebol e suas conseqüências já não são mais opcionais; é cultural. Alegria e frustração vindos de uma bola de couro já são parte da “brasileirice”.

E a gente sabe que a questão não é apenas ganhar ou perder um clássico, mas vai muito além disso. O ganhar envolve chegar feliz na padaria para sacanear o caixa que recebe pelo seu cafezinho diário; o trocador de ônibus que não larga do seu pé; o amigo do colégio, da faculdade ou do trabalho que vive com as cores do rival; enfim, a semana flui melhor. E a derrota? – você pergunta. É justamente o inverso: uma semana, no mínimo, sem querer ser lembrado daquelas duas sagradas horas dominicais.

Quanto ao Tio Sam, as coisas não são assim tão simples. A experiência de morar lá me mostrou que o esquema é outro quando se fala da relação entre as pessoas e os esportes.

Em primeiro lugar, é importante lembrar que trata-se de um país multiesportivo. Ou seja, é difícil achar um esporte que monopolize as atenções como faz o “soccer” por aqui. As grandes cidades americanas costumam ter times em pelo menos dois esportes, o que dá ao fã um leque de possibilidades. Los Angeles, por exemplo, conta com dois times na NBA (Lakers e Clippers), um time de Baseball (Dodgers) e pelo menos duas cidades por perto com times de futebol americano (San Diego Chargers e Oakland Raiders) e hockey (L.A Kings e Anaheim Ducks). Sete opções. É quase impossível ser fã de tudo e todos como se fossem únicos!

Imagine-se como um morador de Los Angeles. Por mais chateado que você fique com duas derrotas no basquete e duas no futebol americano, você ainda tem três times para fazer seu fim-de-semana mais feliz. Você continua gostando de tudo, mas dá mais importância ao que melhor lhe convém.

E quando imagina-se a gozação semanal, perde-se a esperança. Ao contrário do futebol daqui, os times de lá são quase sempre únicos em suas cidades (às vezes, no estado). Isso significa que a rivalidade não ultrapassa os limites do jogo, como há pouco descrevi aqui. Mesmo que o grande adversário do Lakers atual vença o clássico, não haverá um trocador de ônibus vestido de verde, um amigo com a camisa autografada pelo Kevin Garnett ou mesmo o “moço da padaria” sacaneando com a caneta do Celtics atrás da orelha. Aliás, nem a própria padaria existe por lá.
Quer dizer, o fanatismo tem limites e é bom que eles sejam respeitados, para o bem de quem os respeita e quem está à sua volta. Talvez, caso isso aconteça, não vejamos mais tantas brigas e mortes em portas de estádio. Isso sim é deprimente, desgastante, desqualificante, desumano.

Agora, saber ser um “bom fanático” e torcer do seu jeito não tem preço. Quem tem algo melhor que a camisa da sorte, a caneca da macumba, o sapo com o nome do time adversário? Ninguém. Mesmo quando a derrota é amarga, só a gente sabe o quanto aquilo mexe na nossa rotina. Até porque ninguém sabe melhor do que nós, torcedores, o quanto fazemos diferença. Seja das arquibancadas ou da sala da sua casa, torcer é quase uma arte. Melhor pra quem sabe ser artista.

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