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sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Futebol e os Clichês - Parte 2

“O Mundo dá voltas / Boca fechada não entra mosca”


Amigos e leitores do DLNB, depois da épica final da taça Libertadores da América, tenho muito pano pra fazer manga, gola e a camisa inteira tamanho GG. Seguindo a trilogia da semana passada, vejo nessas duas frases algo muito mais sério a se explorar do que uma simples perda de título. É a resposta da bola a uma postura com a qual eu não concordo, mas que parece se perpetuar no futebol – principalmente o carioca. Me desculpem o tamanho do texto - duas páginas no Word-, mas são duas idéias difíceis de dissociar.

Voltamos 10 anos no tempo. O Fluminense vivia o auge de seu descenso, caindo da 2ª para a 3ª divisão. Os rivais tinham à sua frente um prato cheio para fazer piadas e trocadilhos. O Flu até ganharia, em 99, o direito de voltar à série B caso precisasse – papai Eurico deu, digamos, um pezinho pra pular essa etapa. Levando em conta que o mundo do futebol é redondo como a bola que Roni e Cia maltrataram durante três anos e que havia ultrapassado o limite do ponto mais baixo, era a hora do Flu começar sua subida e chegar ao ápice.

Não só o Fluminense, mas todo o futebol carioca viveu seu pior momento na última década. A queda do Botafogo e a constante luta de Flamengo e Vasco para não repetir o feito dos rivais foi a constante dos últimos anos, até 2005. Os times eram ruins, o campeonato regional não era levado a sério e o futuro que estava a mercê dos pseudo-dirigentes era pra lá de nebuloso. Como tudo que desce pode subir, começamos a mudar a história em 2006.

O ano das viradas começou com o título estadual de um encantador Botafogo, sob a batuta do então razoável técnico Cuca. Flamengo e Vasco, além de terminarem o Brasileirão sem o medo de serem rebaixados, chegaram à final da Copa do Brasil. O Fluminense não fez um grande campeonato nacional, terminando a duas posições de uma nova vergonha. Apesar de tudo, chegou a semifinal da Copa do Brasil, sendo eliminado pelo rival Vasco.

Ano passado, o Rio viveu o seu melhor ano do século, até o presente momento. Voltou a se fazer presente na Libertadores da América com o Flamengo, manteve seus quatro clubes entre os 10 melhores do país e viu o Tricolor das Laranjeiras levantar a taça da Copa do Brasil, com o Botafogo chegando às polêmicas semifinais contra o Figueirense. Com a conquista, o Flu chegou à Libertadores deste ano, ao lado de um Flamengo que saiu da penúltima posição para chegar ao terceiro lugar do Brasileiro, numa reação assombrosa.

Começamos o ano com um campeonato carioca sem grandes surpresas. Os quatro grandes, favorecidos pelo mando de campo em todos os jogos, não viram a sombra os pequenos que figuravam a competição e chegaram, com facilidades, às semifinais de cada turno. Melhor para o rubro-negro, que bateu o Botafogo na final e sagrou-se campeão estadual pela 30ª vez em sua história.

Três dias antes da conquista, no México, o Fla venceu o América por 4 a 2 e a semana terminou como todo flamenguista sonhou: o título e a classificação praticamente assegurada. Era só fazer o simples, o feijão-com-arroz. Era só não abrir a boca. Deu no que deu, entrou mosca.Diante de 50.000 pessoas e um adversário considerado morto, entrou em campo um Flamengo covarde e vulnerável. Uma tragédia que se anunciava em meio à saída de Joel Santana.

Sem o maior rival na competição, o Fluminense tratou de despachar Atlético Nacional e São Paulo, de forma competente e sem grande alarde. Chegou às semifinais, enfrentando o poderoso Boca Juniors. Novamente calado e trabalhando sério, os cariocas atropelaram a turma de Riquelme, garantindo a vaga para a grande final, contra a já conhecida LDU. Aí começou o problema.

Por tudo que havia acontecido na competição, o torcedor tricolor tinha todos os motivos para achar que seria campeão. No entanto, para jogadores e dirigentes – que já haviam enfrentado a LDU antes, com boas atuações e resultados -, o pensamento não poderia ser esse. No entanto, no bojo da eliminação do Flamengo em pleno Maraca e da animosidade em torno do momento histórico vivido pelo clube, Renato Gaúcho e Thiago Neves resolveram abrir a boca.

A essa altura, sendo o único time do Brasil a disputar duas competições simultaneamente, a dupla aproveitou para tripudiar dos adversários com provocações e frases ambíguas. Como se o futuro fosse certo como o passado. Em clima de “já ganhou”, apesar de aparentemente pregarem respeito ao conhecido adversário, embarcaram e voltaram de Quito com um resultado que ainda lhes dava a esperança da conquista. Mesmo com o baque, o escrete tricolor pensava ter o poder de reagir quando bem quisesse, no finzinho, como fez nas últimas partidas contra São Paulo e Boca. Doce ilusão.

No jogo da volta, uma incrível virada parou justamente no “achismo”. A equipe carioca, após o terceiro gol, pensou-se dona do jogo e, como tal, achou que estivesse tudo sob controle. Assim, veio a prorrogação e a disputa de pênaltis. Grandes batedores pararam nas mãos de Cevallos e o Maraca viu 90.000 pessoas chorarem um título “quase” ganho.O Fluminense teve todas as chances de viver, da melhor forma possível, o auge do seu ciclo. Assim como Flamengo, Vasco e Botafogo já o fizeram, os tricolores sentiram na pele que trabalhar de boca fechada é o melhor jeito de abrir caminhos para as grandes glórias.

O torcedor tem o passe para falar, brincar, torcer, secar e comemorar o que bem entender. Quem vive de futebol, no entanto, não. Como também não pode pedir respeito se não o faz merecer. Até me surpreendi, minutos atrás, quando li num site que aqueles dois exigem respeito ao feito tricolor. Me admira vocês, Thiago e Renato, ficarem sentidos pelo que vocês próprios ajudaram a construir.

Não tenho dúvidas de que o futebol carioca ainda vive seu ponto alto, e por isso, as chances estão abertas para quem quiser viver uma boa sequência de trunfos. Só não permitam vocês, jogadores e dirigentes, que as moscas transformem a alegria em tragédia para aqueles que fazem do futebol, a alegria de viver na humildade. O torcedor não merece esse tratamento.

3 comentários:

~ Carla Araújo disse...

De fato, declarações feitas, tanto pelo Renato, quanto pelo Thiago, foram ofensivas e desrespeitosas, de certa maneira. Mesmo sendo tricolor, não posso discordar.
Porém, acredito que não existiram culpados para a derrota, e sim uma série de fatores. O que aconteceu quarta não estava nos planos dos citados 90.000 torcedores presentes. Alias, ninguém poderia imaginar que um Conca ou um Thiago Neves (que batem penalti muito bem) perderiam suas cobranças.
Entretante, seu texto está muito bom, Bê. Parabéns.

Beijos

Anônimo disse...

cuplados, carla? culpados de que? O fluminense correu atrás e conseguiu recuperar o terreno perdido no primeiro jogo! Pênaltis são pênaltis, não tem culpado nenhum.

Anônimo disse...

No futebol nada tem sentido quando os fatores que determinam uma partida resolvem caprichosamente fazerem do futebol um jogo de azar. O que os tricolores ( como eu ) poderiam temer depois que o time conseguiu os 3 x 1?? Vitórias milagrosas em cima do São Paulo, e Boca fizeram os tricolores se sentirem imortalizados e sabiam que a sorte de campeão estava ao nosso lado. Bastava a torcida cantar e rezar que lá vinha mais um golzinho salvador. Tricolores de todos os cantos do país fizeram questão de fazer a festa mais bonita que eu já vi no Maraca. Quem esteve lá mesmo não sendo tricolor pode testemunhar!!. Sentíamos a vibração do coração, este apertado de angustia a cada investida do time adversário. Tudo parecia a nosso favor... Crianças e mulheres faziam um ambiente familiar e tínhamos a certeza que João de Deus não iria nos decepcionar, afinal quanta tristeza seria aquele dia sem o título, quanta falta de misericórdia estaria no deus do futebol. Quanto choro e ranger de dentes haveria com um resultado negativo. Mais uma vez Tricolores estavam se livrando de sua pequenez acostumados a lidar com as provocações da série B e C do brasileiro. Quem é Tricolor sabe do sofrimento que passamos por esse time tão amado e lindo. Nos consideramos a torcida mais bonita, mais colorida, mais charmosa e como disse Lulu Santos; A torcida mais cheirosa.! Mas é exatamente disso que o Tricolor aprendeu a se segurar nas crises, pois orgulho, só mesmo da torcida. A história parecia caminhar para um desfecho glorioso como os tricolores sempre sonharam, imaginaram e queriam. Mas como disse mais em cima futebol só nos faz sofrer. Na prorrogação do jogo mesmo sem saber do resultado prometi para mim mesmo que nunca mais iria numa final de campeonato. Chega de sofrer!!! A torcida nesta hora estava exausta de tanta festa e tantos gols, queríamos logo o desfecho seja lá qual fosse. Nesse momento o Fluminense perdeu o campeonato. No momento que mais precisava da torcida ela estava morta, sem forças, deixando para o destino decidir a parada. Nesse momento o Maracanã chorou. Na hora dos pênaltis a torcida focou suas atenções no medo da perda dos pênaltis e não na glória dos gols ( ranço da década passada ) Pronto!! O Flu tinha perdido a libertadores. O sonho tinha acabado. O Rio perdeu as cores. A festa ficou para mais tarde!!. Temos que saber perder!!. Lutamos; Fomos o melhor do Brasil; Fomos o melhor do campeonato; seríamos talvez o melhor do mundo. O Flu sai fortalecido. Esperem e vejam. Não sei quanto tempo vai levar para curar a ferida, mas de uma coisa nós sabemos; estamos mais fortes, o mundo conhece hoje o Fluminense, sabe de sua força e sabe que no Maraca ninguém manda mais que o Fluminense.
Adeus libertadores, muito prazer planeta bola.